Uma família tem de
cumprir duas tarefas primordiais: a de construção de um sentimento de pertença
ao grupo familiar e a da promoção da individualização/autonomização dos seus
elementos. É um sistema sócio-cultural que se deverá transformar, desenvolver e
adaptar aos vários acontecimentos que vão surgindo durante a vida permitindo,
assim, o crescimento psico-social dos seus elementos familiares através do
equilíbrio entre o processo de diferenciação ou de construção de identidade e a
manutenção do sentimento de pertença familiar. Isto pressupõe que haja
flexibilidade de padrões transacionais.
Segundo Madalena
Alarcão, em (Des) Equilíbrios familiares, a família é constituída por vários
subsistemas, mais propriamente quatro: o subsistema individual, o subsistema
conjugal, o subsistema parental e o subsistema fraternal.
O subsistema
individual é composto pelo próprio indivíduo, é o seu eu. No entanto, este eu
também pertence aos outros subsistemas o que acaba por criar um dinamismo que
se reflecte no seu próprio desenvolvimento e na forma como ele está, se
comporta e interage em cada um destes contextos.
O subsistema
conjugal constitui-se por duas pessoas (marido e mulher, mulher e mulher,
marido e marido) que se complementam e se adaptam reciprocamente. Uma das
funções deste subsistema é o desenvolvimento de limites que protejam o casal da
intromissão de outros elementos, como por exemplo os filhos e/ou as famílias de
origem de cada um dos elementos. Este subsistema é de máxima importância para o
crescimento dos filhos porque lhes serve de exemplo para o estabelecimento das
suas futuras relações, do modo como lidar com os conflitos, dos valores a
transmitir, …
Este subsistema é
um espaço privado de suporte afectivo e emocional do casal, de realização
afectiva e de enriquecimento pessoal, uma área privada que não deve ser
invadida pelos filhos nem pela família alargada.
O subsistema
parental tem como objectivo principal a educação e protecção das gerações
mais novas. “É a partir das interacções pais-filhos que as crianças aprendem o
sentido da autoridade, a forma de negociar e de lidar com o conflito.” (…)
Assim, este subsistema facilita o adequado processo evolutivo dos filhos,
promove a sua socialização, exige uma grande flexibilidade e constante
adaptação às diferentes fases de adaptação dos filhos, tendo sempre presentes o
amor, a autoridade, a flexibilidade, entre outros. É como se fosse sempre uma “faca
de dois gumes”: os pais não podem proteger e guiar sem controlar e
restringir; mas os filhos não podem crescer e tornar-se autónomos sem rejeitar
e atacar.
O Subsistema
fraternal é constituído pelos irmãos. “É um lugar de socialização e de
experimentação de papéis face ao mundo extra-familiar, primeiro em relação à
escola e depois em relação ao grupo de amigos e ao mundo do trabalho. (…) É
aqui que as crianças desenvolvem as suas capacidades relacionais experimentando
o apoio mútuo, a competição, o conflito e a negociação das brincadeiras
solidárias e nas «guerras».” Nas famílias numerosas, os filhos agrupam-se
em vários subsistemas, de acordo com a idade ou nível de desenvolvimento, o que
ser reconhecido pelos pais.
Os subsistemas têm
funções diferentes, mas estão intimamente ligados, logo devem ter regras e
fronteiras bem definidas entre eles, mas ao mesmo tempo deverão ser flexíveis
para permitirem a intercomunicação. É como se a família fosse uma balança e
esta balança tivesse quatro pratos. Estes quatro pratos deverão estar
equilibrados para que consiga existir equilíbrio entre os vários elementos do
sistema familiar. Quando não existe este equilíbrio, é porque as regras e as
fronteiras não estão bem definidas e são frouxas, permitindo a interferência constante
dos outros subsistemas, permitindo, assim, que ocorram formas de relações
simbióticas, coligações, a parentificação, … No entanto, estas regras também
não podem ser extremamente rígidas, porque se assim o forem, acabam por criar
distância e isolamento do casal e empobrecimento de cada um dos seus elementos.
As regras
permitem, assim, “regular a passagem da informação entre a família e o meio
(…) e protegem a diferenciação do sistema e dos seus membros. (…)” Devem
permitir o reconhecimento das características individuais e de maturação
progressiva dos diferentes membros.
A partir da
distinção destes limites/regras definem-se dois tipos de família: as famílias
emaranhadas ou aglutinadas (onde existem fronteiras difusas) e as
famílias dispersas ou desagregadas (onde existem fronteiras rígidas).
As famílias
emaranhadas ou aglutinadas “(…) fecham-se em si mesmas, promovem e alimentam
em exagerado nível de intercâmbios e de preocupações entre os diferentes
elementos, reduzindo as distâncias interpessoais e misturando as fronteiras
entre gerações, subsistemas e indivíduos. Os papéis familiares são rígidos e um
dos pais é, frequentemente, colocado numa posição one-down. Estabelecem fronteiras
rígidas com o exterior e pode restringir as suas capacidades de adaptação,
tornando stressantes todas as solicitações de autonomia que são vistas como
faltas de lealdade para com o sistema familiar.” Assim, há uma falta de
clareza dos limites e fronteiras entre os subsistemas, não permitindo a
individualização dos seus elementos.
As famílias
dispersas ou desagregadas “estabelecem-se fronteiras excessivamente rígidas
no seu interior e difusas com o exterior. (…) Os intercâmbios comunicacionais
entre os subsistemas tornam-se difíceis e as funções de protecção da família estão
diminuídas. Funcionam de forma individualista como um cut-off emocional. Os
papéis parentais são instáveis, apesar da sua aparente rigidez. A agressividade
e os comportamentos anti-sociais.” Assim, existem limites muito marcados,
vivendo cada elemento de modo isolado, sem vivência de pertença ao conjunto
familiar, não existindo vida relacional na própria família.
Uma família
flexível é capaz de se adaptar a circunstâncias diferentes, mantendo a sua
continuidade como grupo e permitindo o crescimento psico-social de cada um dos
seus membros.
Em jeito de
conclusão, numa família saudável “há uma noção de conjunto, existe
fronteiras claras entre gerações, há transmissão de valores familiares, há
flexibilidade nos papéis familiares, a distribuição do poder é flexível e
existe possibilidade de negociação, tem muito espaço para brincar, os sintomas
podem surgir em situações de crise (mas aprende-se com eles), valoriza-se o
diálogo, há uma ligação aberta ao meio social envolvente …”.
concordo com tudo o que está aqui! eu tenho a sorte de ter um núcleo familiar que amo muito e que me ama de volta, respeitamo-nos mutuamente e fazemos de tudo uns pelos outros. adoro a minha família e não a trocava por nada :) mas sei que há muita gente com imensos problemas familiares..
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