16 de abril de 2015

Famílias ...

O conceito de família não pode ser delimitado a laços de sangue, casamento, parceria sexual ou adopção. Qualquer grupo cujas ligações sejam baseadas na configuração suporte mútuo e um destino comum, deve ser encarado como família” – Definição de família segundo a OMS em 1994.

Uma família tem de cumprir duas tarefas primordiais: a de construção de um sentimento de pertença ao grupo familiar e a da promoção da individualização/autonomização dos seus elementos. É um sistema sócio-cultural que se deverá transformar, desenvolver e adaptar aos vários acontecimentos que vão surgindo durante a vida permitindo, assim, o crescimento psico-social dos seus elementos familiares através do equilíbrio entre o processo de diferenciação ou de construção de identidade e a manutenção do sentimento de pertença familiar. Isto pressupõe que haja flexibilidade de padrões transacionais.

Segundo Madalena Alarcão, em (Des) Equilíbrios familiares, a família é constituída por vários subsistemas, mais propriamente quatro: o subsistema individual, o subsistema conjugal, o subsistema parental e o subsistema fraternal.

O subsistema individual é composto pelo próprio indivíduo, é o seu eu. No entanto, este eu também pertence aos outros subsistemas o que acaba por criar um dinamismo que se reflecte no seu próprio desenvolvimento e na forma como ele está, se comporta e interage em cada um destes contextos.

O subsistema conjugal constitui-se por duas pessoas (marido e mulher, mulher e mulher, marido e marido) que se complementam e se adaptam reciprocamente. Uma das funções deste subsistema é o desenvolvimento de limites que protejam o casal da intromissão de outros elementos, como por exemplo os filhos e/ou as famílias de origem de cada um dos elementos. Este subsistema é de máxima importância para o crescimento dos filhos porque lhes serve de exemplo para o estabelecimento das suas futuras relações, do modo como lidar com os conflitos, dos valores a transmitir, …

Este subsistema é um espaço privado de suporte afectivo e emocional do casal, de realização afectiva e de enriquecimento pessoal, uma área privada que não deve ser invadida pelos filhos nem pela família alargada.

O subsistema parental tem como objectivo principal a educação e protecção das gerações mais novas. “É a partir das interacções pais-filhos que as crianças aprendem o sentido da autoridade, a forma de negociar e de lidar com o conflito.” (…) Assim, este subsistema facilita o adequado processo evolutivo dos filhos, promove a sua socialização, exige uma grande flexibilidade e constante adaptação às diferentes fases de adaptação dos filhos, tendo sempre presentes o amor, a autoridade, a flexibilidade, entre outros. É como se fosse sempre uma “faca de dois gumes”: os pais não podem proteger e guiar sem controlar e restringir; mas os filhos não podem crescer e tornar-se autónomos sem rejeitar e atacar.

O Subsistema fraternal é constituído pelos irmãos. “É um lugar de socialização e de experimentação de papéis face ao mundo extra-familiar, primeiro em relação à escola e depois em relação ao grupo de amigos e ao mundo do trabalho. (…) É aqui que as crianças desenvolvem as suas capacidades relacionais experimentando o apoio mútuo, a competição, o conflito e a negociação das brincadeiras solidárias e nas «guerras».” Nas famílias numerosas, os filhos agrupam-se em vários subsistemas, de acordo com a idade ou nível de desenvolvimento, o que ser reconhecido pelos pais.

Os subsistemas têm funções diferentes, mas estão intimamente ligados, logo devem ter regras e fronteiras bem definidas entre eles, mas ao mesmo tempo deverão ser flexíveis para permitirem a intercomunicação. É como se a família fosse uma balança e esta balança tivesse quatro pratos. Estes quatro pratos deverão estar equilibrados para que consiga existir equilíbrio entre os vários elementos do sistema familiar. Quando não existe este equilíbrio, é porque as regras e as fronteiras não estão bem definidas e são frouxas, permitindo a interferência constante dos outros subsistemas, permitindo, assim, que ocorram formas de relações simbióticas, coligações, a parentificação, … No entanto, estas regras também não podem ser extremamente rígidas, porque se assim o forem, acabam por criar distância e isolamento do casal e empobrecimento de cada um dos seus elementos.

As regras permitem, assim, “regular a passagem da informação entre a família e o meio (…) e protegem a diferenciação do sistema e dos seus membros. (…)” Devem permitir o reconhecimento das características individuais e de maturação progressiva dos diferentes membros.

A partir da distinção destes limites/regras definem-se dois tipos de família: as famílias emaranhadas ou aglutinadas (onde existem fronteiras difusas) e as famílias dispersas ou desagregadas (onde existem fronteiras rígidas).

As famílias emaranhadas ou aglutinadas “(…) fecham-se em si mesmas, promovem e alimentam em exagerado nível de intercâmbios e de preocupações entre os diferentes elementos, reduzindo as distâncias interpessoais e misturando as fronteiras entre gerações, subsistemas e indivíduos. Os papéis familiares são rígidos e um dos pais é, frequentemente, colocado numa posição one-down. Estabelecem fronteiras rígidas com o exterior e pode restringir as suas capacidades de adaptação, tornando stressantes todas as solicitações de autonomia que são vistas como faltas de lealdade para com o sistema familiar.” Assim, há uma falta de clareza dos limites e fronteiras entre os subsistemas, não permitindo a individualização dos seus elementos.

As famílias dispersas ou desagregadas “estabelecem-se fronteiras excessivamente rígidas no seu interior e difusas com o exterior. (…) Os intercâmbios comunicacionais entre os subsistemas tornam-se difíceis e as funções de protecção da família estão diminuídas. Funcionam de forma individualista como um cut-off emocional. Os papéis parentais são instáveis, apesar da sua aparente rigidez. A agressividade e os comportamentos anti-sociais.” Assim, existem limites muito marcados, vivendo cada elemento de modo isolado, sem vivência de pertença ao conjunto familiar, não existindo vida relacional na própria família.

Uma família flexível é capaz de se adaptar a circunstâncias diferentes, mantendo a sua continuidade como grupo e permitindo o crescimento psico-social de cada um dos seus membros.

Em jeito de conclusão, numa família saudável “há uma noção de conjunto, existe fronteiras claras entre gerações, há transmissão de valores familiares, há flexibilidade nos papéis familiares, a distribuição do poder é flexível e existe possibilidade de negociação, tem muito espaço para brincar, os sintomas podem surgir em situações de crise (mas aprende-se com eles), valoriza-se o diálogo, há uma ligação aberta ao meio social envolvente …”.

1 comentário:

  1. concordo com tudo o que está aqui! eu tenho a sorte de ter um núcleo familiar que amo muito e que me ama de volta, respeitamo-nos mutuamente e fazemos de tudo uns pelos outros. adoro a minha família e não a trocava por nada :) mas sei que há muita gente com imensos problemas familiares..

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